O ensino gramatical na sala de aula de língua inglesa (LI) como língua estrangeira (LE) pode desenhar uma linha notável entre o que se apresenta como fundamental para a comunicação e o que pode ser um acessório para alcançar um discurso culto/formal. Nesse sentido, poderíamos pensar, por exemplo, que uma flexão inadequada de plural não afetaria a mensagem na mesma instância que uma conjugação verbal equivocada entre passados. No campo da Fonética e Fonologia, essa mesma lógica ocorre, nos levando ao questionamento: quais aspectos da pronúncia mais influenciam na comunicação e por que?

A base teórica adotada por este projeto, como já discutido em outras seções, enxerga o inglês como uma língua internacional e, então, heterogênea, plural e diversa. O ensino e aprendizagem de pronúncia, logo, necessita ser pautado no conceito de inteligibilidade – que se refere à capacidade de identificação dos termos em uma sentença, sem recorrer necessariamente a sua decodificação – ao invés da reprodução de variedades de prestígio. Nessa perspectiva, surge então o Lingua Franca Core (LFC), proposto por  Jenkins (2000).

O modelo teórico do LFC dá prioridade ao trabalho de certos aspectos fonético-fonológicos da língua, conferindo que determinadas características acústicas não demonstram ser tão fundamentais para a comunicação quanto outras. Um desses exemplos se dá na dicotomia segmental versus suprassegmental, sendo o primeiro mais contemplado pelo LFC que o segundo. Chega-se, neste momento, a um segundo questionamento: o que são e por que ensinar aspectos segmentais?

Aspectos segmentais são unidades acústicas, produzidas pelo aparelho fonador e que, quando pronunciadas de forma conjunta, resultam nos morfemas, palavras e textos de uma língua. A maneira como são realizados os divide entre duas categorias maiores: vogais e consoantes.

Os segmentos consonantais configuram os sons produzidos em que há uma barragem (blockage) do ar que sai dos pulmões, ou egressivo. Apesar desse bloqueio poder ser feito de diversas maneiras, e de dividir-se, assim, entre subcategorias (manner e places of articulation), eles ainda divergem-se amplamente dos segmentos vocálicos, os quais não obstruem, de maneira alguma, o ar.

Essa categoria segmental (segmento por segmento), se opõe a uma forma de análise conjunta (prosódica, suprassegmental ou rítmica) da língua, referente à conexão entre as unidades sonoras. Apesar de ambas demonstrarem-se importantes para a comunicação, reconhece-se a influência das qualidades segmentais para a identificação da mensagem desde métodos antigos de ensino-aprendizagem de língua, como o Audiolingual.

O LFC, portanto, postula que todas as consoantes, à exceção dos sons de th (/θ/, /ð/), e do dark /l/ – l norte-americano, produzido no palato –, são essenciais para a comunicação efetiva. Apesar de existir determinada relativização para os sons vocálicos, frente a semelhanças entre si, o mesmo ocorre: todas as unidades necessitam ser ensinadas/aprendidas.

A eventual troca de um segmento consonantal poderia resultar na não identificação de uma palavra, como também no reconhecimento trocado de um par mínimo. Pares mínimos são dois termos diferenciados apenas por um único segmento sonoro, usualmente mas não exclusivamente consonantal, como, por exemplo, em wine e vine, ou row e low. É o caso dos exemplos abaixo:

  • Pat vs. Bat 
  • Fan vs. Van 
  • Sip vs. Zip 
  • Tie vs. Die 
  • Chip vs. Ship 
  • Cap vs. Gap 
  • Feet vs. Meet 
  • Thing vs. Sing 
  • Sue vs. Zoo 
  • Pan vs. Ban 

A profundidade dessa discussão aumenta quando se reconhece que muitos sons consonantais são produzidos da mesma maneira e no mesmo local de articulação, a diferenciar apenas da vibração das cordas vocais no momento em que são realizados (é o caso de /p/ e /b/; /f/ e /v/; /s/ e /z/; /t/ e /d/; /k/ e /g/; etc.). 

À luz dessa complexidade, a seção das consonantais em nosso projeto se estrutura entre esses sons similares, utilizando-se recorrentemente do exemplo de pares mínimos, – como os apresentados acima – onde frequentemente ocorre o equívoco comunicativo. A estrutura de cada página perpassa por uma descrição da produção dessas unidades sonoras (1), seguidas de sua influência em pares mínimos específicos (2). Ao fim, abarca breves e práticas sínteses sobre como podem ser trabalhados na sala de aula de LI (3).

Entre nas próximas páginas do Projeto ‘Ensino de Pronúncia’, e veja você mesmo!

Referências:

JENKINS, Jennifer. The phonology of English as an international language. Oxford University Press, 2000.

Escrito por Vitor Xavier Gonçalves.

Revisado por Profa. Dra. Vivian Nádia Ribeiro de Moraes-Caruzzo.