Quando discutimos o ensino da pronúncia em inglês, é fundamental entender os modos de articulação, ou seja, os modos pelos quais os são, fisicamente, produzidos no aparelho fonador; podendo ser realizados na língua, nos lábios, nos dentes, no palato, etc. Esses modos de articulação são essenciais para classificar as consoantes e guiar a forma como ensinamos os sons aos aprendizes. 

As plosivas, por exemplo, são sons produzidos com uma obstrução completa do fluxo de ar, seguida por uma liberação rápida (gerando uma breve “explosão”). No inglês, essas consoantes incluem / p / como em “pot”, / b / como em “bat”, / t / como em “top”, / d / como em “dog”, / k / como em “cat” e / g / como em “go”. Uma distinção importante, segundo Ladefoged (2010), é a separação entre plosivas orais e nasais, onde as primeiras  são aquelas como / p / e / b /. As nasais, como / m / em “man”, / n / em “no” e / ŋ / em “sing” no inglês, também envolvem uma obstrução completa da passagem do ar pela boca, mas permitem que o ar escape pelo nariz. Embora / m / e / n / ocorram em ambas as línguas (inglês e português), / ŋ / é específico do inglês, enquanto / ɲ / é encontrado no português. A distinção entre as oclusivas nasais e orais é importante para entender e ensinar esses sons. 

As fricativas são sons onde o fluxo de ar é parcialmente obstruído, criando uma fricção constante e audível. Exemplos incluem / f / como em “fish”, / v / como em “van”, / s / como em “sun”, / z / como em “zoo”, / ʃ / como em “she”, e / ʒ / como em “measure”. Exclusivamente à língua inglesa, encontramos também a fricativa glotal / h / como em “hat” e as fricativas interdentais / θ / como em “think” e / ð / como em “this”. 

As africadas são uma combinação de plosivas e fricativas, começando com uma obstrução completa e liberando o ar em uma fricção. Os sons / tʃ / como em “chop” e / dʒ / como em “judge” são exemplos sonoros existentes tanto no inglês quanto no português.

O tepe [ɾ], que ocorre tanto no português quanto no inglês americano, é caracterizado por uma rápida obstrução do fluxo de ar, como no som de / t / em “better” na pronúncia americana. A retroflexa, que envolve o levantamento e curvatura da língua em direção ao palato duro, é presente em ambas as línguas e é fundamental no ensino de sons como o / ɹ / em “red” no inglês. 

O som lateral / l / é comum tanto no inglês quanto no português, como em “light” e “luz”, onde o fluxo de ar passa pelos lados da língua. No inglês o / ɫ / (o “dark L”) aparece em contextos específicos, como no final da palavra “ball” e na palavra “milk”. Aproximantes como / r /, / w /, e / j / em inglês, como em “run”, “wet”, e “yes”, não causam fricção significativa, mas ainda são cruciais para uma pronúncia clara.

Além dos modos de articulação, o ponto de articulação – ou onde a obstrução ocorre na boca – é igualmente importante. Os sons são classificados de acordo com pontos como bilabial, labiodental, interdental, alveolar, alveopalatal, palatal, velar e glotal. Por exemplo, os sons bilabiais como / p / e  / b / são produzidos com os lábios juntos, enquanto os labiodentais / f / e / v / são formados com os dentes superiores tocando o lábio inferior.

É importante destacar que um grau superior de naturalização da Língua Materna em adultos, quando comparado a crianças, pode gerar um desafio em relação ao aprendizado da pronúncia de uma segunda língua. De acordo com Gilakjani e Ahmadi (2011), a principal dificuldade enfrentada pelos alunos em sala de aula seria a falta de conhecimento das diferenças em relação à produção sonora da língua alvo quando comparada à Língua Materna. Por meio de um maior conhecimento fonético, professores podem auxiliar seus alunos com tal obstáculo.

Além disso, promover uma consciência fonética em seus alunos pode atuar como uma ferramenta para trabalhar sobre o preconceito linguístico e uma possível “vergonha” ligada à produção de determinados fones pouco comuns na Língua Materna. Assim, trabalhar com essa variação é vantajoso em contextos além da produção ou recepção orais, expandindo a visão de mundo dos alunos, uma vez que cada língua apresenta características sonoras próprias.

Como apresentado anteriormente, as diferenças na pronúncia em inglês são essenciais tanto para a produção, quanto para a compreensão oral por parte dos alunos. / i: / e / ɪ / são, inicialmente, ambos ligados à vogal “I”, porém a duração interfere no sentido quando realizadas dentro de uma palavra. Quando a vogal longa / i: / produz “sheep” e a vogal breve / ɪ / resulta em “ship”, uma confusão entre elas pode impactar na compreensão.

O ensino dos modos de articulação em inglês, tanto para consoantes quanto para vogais, não é apenas uma questão de classificar sons, mas de entender as sutilezas de como esses sons são produzidos e como afetam a comunicação. É importante, ademais, que o professor se atente a possíveis dificuldades provenientes de questões físicas durante a prática realizada pelos alunos, com a intenção de evitar possíveis constrangimentos e uma retração da participação em sala de aula.

Referências: 

RISSI, N. C. A fonética na sala de aula do inglês. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Letras). Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, Araraquara, p. 26. 2012. 

LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A course in phonetics. Wadsworth Publishing Company, 2010.

GILAKJANI, A.; AHMADI, A. A study of factors affecting EFL learners’ English listening comprehension and the strategies for improvement. Journal of Language Teaching and Research, v. 2, n. 5, p. 977-988, 2011.

Texto por Laura Ferri Pulgatti e Natália Rosalen de Castro.

Revisado por Profa. Dra. Vivian Nádia Ribeiro de Moraes-Caruzzo.