Uma vez que já vimos os mitos e os erros mais comuns tidos no ensino de pronúncia de inglês, podemos partir, agora, para abordagens as quais consideramos mais inclusivas.
Quando e por quais meios ensinar a pronúncia?
Vimos que um dos mitos tidos em relação ao ensino de pronúncia era aquele de que aulas de língua estrangeira (LE) apenas deveriam abordar, com mais foco, os aspectos da fonética e da fonologia em níveis mais avançados de cursos e materiais didáticos. No entanto, é importante reforçar que o ensino de aspectos de pronúncia deve estar presente em aulas de LE desde os estágios mais iniciantes, da mesma forma que é importante entendermos que a apresentação desses aspectos pode aparecer nesses níveis de diferentes formas e com diferentes propósitos.
Nesse sentido, quando um indivíduo inicia seu processo de aprendizagem de LE, ele traz consigo uma série de conhecimentos (linguísticos e culturais) de sua língua materna à sala de aula. Consequentemente, nesse primeiro momento, será natural que o ensino de pronúncia tenha o papel de introduzir o aluno aos fones da LE e incentivar o reconhecimento de possíveis transferências fonéticas/fonológicas de sua língua materna para as variações do dado idioma estrangeiro, de forma a habituá-lo. Por exemplo, para nós, brasileiros, o sons do th do inglês, que não existem no português, possuem maior complexidade de execução; por isso, nesse obstáculo linguístico, nos seria disposto dicas e subsídios para a pronunciação de tais sons – o mesmo poderia acontecer com o acréscimo de vogais após finais consonantais no inglês (um hábito que transferimos do português). Dessa maneira, já nesses impasses linguísticos mais iniciantes, visando a comunicação, surgiria o ensino de pronúncia como um meio de sensibilização e reforço do aprendiz àquela língua.
De forma análoga, o ensino de pronúncia também pode partir da apresentação de diferentes alofones na introdução de novos vocabulários, para apresentar segmentos sonoros diversos e até mesmo a noção de variedade linguística. Portanto, quando ensinando sobre diferentes vocabulários e expressões do idioma estrangeiro, uma possibilidade na abordagem desse conteúdo – que portaria consigo obrigatoriamente já uma pronúncia – seria a exposição de diferentes formas de enunciar aquela palavra/expressão. Exemplificando: ao apresentar a palavra tomato, poderíamos também expor as diferentes maneiras de pronunciar o termo (təˈmɑːtəʊ / təˈmeɪˌroʊ). Uma informação nessa perspectiva se destaca: como falantes de uma língua estrangeira, nós podemos escolher a variedade com a qual mais nos identificamos e a que preferimos pronunciar; no entanto, não escolhemos aquela que iremos ouvir. Pois, com isso, entendemos que o conhecimento da pronúncia e das diferenças entre variedades linguísticas é importante e deve ser trabalhado desde níveis mais introdutórios.
Quais devem ser os reais objetivos do ensino de pronúncia e como atingi-los?
Partindo de uma perspectiva comunicativa do ensino e aprendizagem de língua estrangeira, isto é, de uma noção de que a língua serve principalmente para a comunicação, torna-se importante no trabalho com a pronúncia de inglês, enfocar principalmente a troca de informações naquela língua, e não somente as similaridades de certas enunciações às de um nativo ou a variações de prestígio. Para tanto, como docentes desses aspectos de pronúncia, faz-se importante a atenção e flexibilização às diferentes formas e singularidades de cada indivíduo ao usar sua língua materna e também a estrangeira – as quais não devem ser repreendidas enquanto não comprometerem a comunicação.
Além disso, ainda partindo dessa mesma perspectiva comunicativa, podemos também tomar noção do uso de materiais autênticos, ou seja, aqueles que não foram desenvolvidos por editoras especificamente para o ensino do idioma. São exemplos, filmes, séries e músicas, que podem trazer, de forma mais dinâmica, contextual e acessível, o reconhecimento de diferentes aspectos fonéticos e fonológicos. Assim, para trabalhar com alunos mais iniciantes o sons do th (θ, ð), como já foi mencionado, poderiam ser utilizadas diferentes músicas (como “Without me”, de Halsey, ou “Sweater Weather”, de The Neighbourhood), que por sua popularidade poderiam ser de conhecimento dos alunos, e que também trariam consigo uma série de vocabulários com os fonemas em questão. Desse modo, poderia haver na sala de aula um maior incentivo ao acesso desses sons cotidianamente, que se encontrariam em um contexto real.
Em suma, podemos compreender que o ensino da pronúncia pode acontecer, de formas e com propósitos distintos, desde níveis iniciantes e intermediários do aprendizado da LE, e não somente naqueles mais avançados. Sabemos agora, também, que este ensino deve mirar na comunicação e, pois, pode utilizar de tecnologias e materiais autênticos para tanto.
Agora que você já tem um panorama do como ensinar a pronúncia corretamente, vá para as próximas abas do projeto e veja como desenvolver, com mais detalhes e exemplos, cada aspecto (sonoro e/ou prosódico) da pronúncia do inglês.