A “Conscientização Gerontológica” é definida por Moraes-Caruzzo e Oliveira (2023, p. 9) como “um exercício pontual e intervencionista de difusão de conhecimentos sobre os idosos e a velhice para profissionais da educação linguística, que não são da área da Gerontologia e da Geriatria, que trabalham ou trabalharão em espaços de ensino de LE para a Terceira Idade”. A partir disso, este tópico tem como principal objetivo evidenciar características comuns de indivíduos idosos e como essas podem influenciar as atividades desenvolvidas pelo professor em sala de aula.
Uma vez que este projeto atua com o objetivo de auxiliar docentes inseridos em contextos de ensino de LI para idosos, nos entendemos enquanto uma ferramenta que atua na perspectiva da construção desta Conscientização Gerontológica.
Em primeiro lugar, é importante destacar que o processo de envelhecimento é plural, resultando em experiências individuais para cada sujeito que passa por ele. Desse modo, é inviável situar e, principalmente, simplificar a Terceira Idade como um todo, não sendo esse o nosso foco. No entanto, algumas mudanças, tanto externas quanto internas, podem ser mais comuns e constantes que outras, devendo ser consideradas fatores significativos pelos docentes que atuam com idosos.
Dentre os aspectos físicos que podem requerer adaptações no campo das práticas e do conteúdo na sala de aula, temos como principais a audição e a visão, as quais naturalmente podem se desgastar com o passar do tempo.
A perda da acuidade auditiva na velhice (presbiacusia) pode ser considerada natural. Sendo fruto de um efeito comum do processo de envelhecimento, ela se acelera por volta dos 50 anos (Papalia; Feldman, 2013). Esta pode influenciar na compreensão e produção oral dos alunos idosos em sala de aula. Desse modo, o professor deve estar atento aos áudios e vídeos selecionados para sua turma, uma vez que muito ruído ao fundo ou um volume baixo podem dificultar a assimilação do conteúdo por parte dos alunos.
A visão pode ser afetada de diversas formas durante o processo de envelhecimento, tanto por questões patológicas (glaucoma, catarata, etc.), como pela perda natural da acuidade visual (presbiopia). Essa última pode se refletir de diferentes maneiras, seja pela nitidez, quantidade de luz necessária para que o idoso enxergue com clareza, na distinção de certas cores (verde, azul e violeta), ou pela velocidade com que ele é capaz de compreender as informações visuais (Papalia; Feldman, 2013; Vega; Bueno; Buz, 2007). Portanto, é necessário que o docente considere, em todos os suportes visuais que planeja usar em sua aula (apresentações de slides, atividades impressas, a escrita na lousa), fatores como: a) estilo da fonte, uma vez que alguns alunos podem não ter um grande domínio sobre a escrita cursiva; b) tamanho da fonte, facilitando a leitura dos alunos com menor acuidade visual; c) as cores da fonte em relação ao fundo, usando o contraste entre eles a seu favor para auxiliar na percepção dos alunos.
Esses são alguns aspectos associados às transformações sensoriais ligadas ao processo de envelhecimento, podendo ocorrer de modo distinto para cada indivíduo. É importante que o professor não considere apenas estas questões como suficientes para oferecer um ensino acessível para seus alunos, mas, também, que observe sua sala de aula, para identificar quais se sobressaem e podem influenciar outras adaptações em suas práticas.
Outros fatores que devem ser considerados sobre o ensino de LI para idosos é o ambiente em que ele ocorre. Se as aulas são realizadas em um contexto virtual, é importante se assegurar de que os alunos tenham à disposição os instrumentos necessários para acessá-las – como tablets, computadores, ou mesmo celulares. Esses fatores também dialogam com os expostos anteriormente, uma vez que o meio de acesso influencia o modo como a informação deverá ser transmitida. Um celular oferece um espaço de visão muito menor do que a tela de um computador, por exemplo. Além disso, é essencial saber se os alunos possuem o conhecimento necessário para acessar a plataforma em que as aulas irão ocorrer, se é preciso a criação de um login específico, entre outros elementos que podem determinar o acesso bem sucedido dos alunos às aulas.
Por outro lado, se os encontros ocorrem em um ambiente presencial, a atenção sobre a acessibilidade é, ainda, essencial. Alguns idosos podem apresentar dificuldades de locomoção, ou mesmo um cansaço dependendo da distância da sala em relação ao ponto em que eles chegam à instituição onde as aulas acontecem. Portanto, se possível, a escolha de uma sala de aula próxima ao estacionamento ou ponto de ônibus (a variar de como chegam até o local) pode ajudar a amenizar tais questões.
Os temas também são tópicos que devem ser adaptados no ensino de LI para idosos. Além de tentar aproximá-los da realidade desses alunos, podendo o professor se perguntar, por exemplo, “será que a preparação para uma entrevista de emprego em inglês é algo próximo da vivência deles?”, alguns temas, como a morte ou expectativas de um futuro longínquo, podem não ser adequados, ou mesmo apropriados, podendo despertar sentimentos negativos e prejudicar sua motivação em aprender o inglês. É importante que o professor faça uso do conhecimento que possui sobre seus alunos durante a adaptação de temas como esses, buscando estabelecer um ambiente acolhedor para que o processo de ensino-aprendizagem possa ocorrer da melhor forma possível.
Todos estes aspectos devem levar em consideração, também, o objetivo, perfil e necessidades dos alunos, os quais podem chegar à sala de aula com intenções próprias. Além de um ambiente de aprendizado, é importante que o próprio professor compreenda estas outras perspectivas trazidas pelos idosos, que estão ali, seja para adquirir conhecimentos acerca do inglês, fazer uso da interação com os demais com a finalidade de socialização, ou mesmo com um propósito de exercitar a mente e mantê-la ativa durante o processo de envelhecimento. Portanto, não é estranho que o uso da língua materna possa ocorrer com maior frequência em uma sala de LI composta por alunos idosos, uma vez que a fluência no inglês pode não ser o único objetivo daquela iniciativa.
REFERÊNCIAS
MORAES-CARUZZO, V. N. R. de. Ensino de Inglês para a Terceira Idade. In: RIBEIRO, F. (Org.) Práticas de ensino de inglês: volume 2. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2022. p. 119-132.PAPALIA, D. E.;
FELDMAN, R. D. Vida Adulta Tardia. In: Desenvolvimento Humano. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 570-603.