Para refletirmos sobre como ensinar pronúncia de forma democrática e didática, devemos, antes, priorizar quais aspectos, fenômenos e sons devemos ensinar. Sobre isso, muitos estudiosos na área do ensino-aprendizagem de pronúncia de língua inglesa (LI) defendem que a Fonética e a Fonologia devem ser ensinadas para e com propósitos comunicativos – seja para a compreensão, seja para fazermo-nos compreensíveis. Assim, surge a noção do termo Inteligibilidade no ensino de pronúncia de língua estrangeira (LE).
A Inteligibilidade é descrita como a habilidade cognitiva que temos de decodificar as palavras de uma fala no nível mais simples de sua interpretação; isto é, a Inteligibilidade é a nossa capacidade de compreender o que é dito (palavra, frase, etc.) por outros falantes e vice-versa. Portanto, quando retomamos o conceito de Inteligibilidade, não nos referimos a processos complexos de interpretação (como, por exemplo, a metáfora ou a metonímia), mas à atribuição dos significados mais convencionais às palavras, ou seja: tratamos de uma interpretação literal.
Para o ensino-aprendizagem de pronúncia e de aspectos e fenômenos de pronúncia em LI, a Inteligibilidade é essencial, justamente, por priorizar a compreensão e a comunicação do aprendiz. Privilegiar esses conceitos, ainda mais de frente à presença de uma Língua Franca tal como o inglês (ILF), é entender, também, que nem todos têm a mesma pronúncia ou pertencem a um mesmo contexto. Respeitar a cultura e individualidade do aprendiz, uma vez que esse se faça entendível, deve ser um dos principais norteadores no ensino da pronúncia.
Com isso, tomamos noção, também, de que nem todos os sons influenciam proporcionalmente na compreensão de uma mensagem, ou seja, entendemos que a pronúncia clara de alguns sons/ritmos interferem mais no entendimento cognitivo da mensagem do que outros. É a partir desse mesmo ponto de vista que a autora Jenkins (2002) criou o chamado Lingua Franca Core (LFC). O LFC é um sistema – pautado no ILF – que parte do conceito de inteligibilidade para reunir os sons que mais intervêm na comunicação (especialmente entre falantes não nativos do inglês). Em outras palavras, ensinar os sons que o LFC prioriza já pode ser uma forma de lecionar pronúncia democraticamente.
O LFC, apesar de não ser perfeito, prioriza o ensino de todas as vogais e consoantes (com exceção dos sons do th e do l inglês em final de sílaba), e defende a pronúncia do r americano (em oposição a sua omissão em variações britânicas) e do t britânico (vozeado na América do Norte). Para o ensino de prosódia e dos aspectos suprassegmentais, compreende-se que o foco deve estar na tônica frasal e em tônica de contraste (chamadas também de proeminência) – deixando de lado outros aspectos como o connected speech, a tônica lexical e a entonação.
No fim, o que devemos apreender dessas propostas e métodos de ensino? Primeiramente, carecemos entender que, para termos um ensino de pronúncia de LI mais inclusivo, necessitamos focalizar na comunicação – para tanto serve o conceito de Inteligibilidade. Podemos, também, refletir que, uma vez sendo esses os nossos objetivos pedagógicos, não faz sentido corrigir ou até mesmo constranger alunos que fizeram-se entendíveis, apenas porque não pronunciaram em variações de prestígio. Dessa forma, devemos priorizar o ensino de sons que mais influenciam na compreensão e na Inteligibilidade – como propõe o LFC – mas também incluindo aqueles aspectos que esse método deixa de lado. Afinal, ainda é importante compreendê-los. Podemos, por exemplo, apresentar esses sons em conjunto com suas variedades e frisar a importância de seu conhecimento já que, em algum momento, iremos ouvi-los.
Agora que você já tem um panorama do como ensinar a pronúncia de forma mais acessível, vá para as próximas abas do projeto e veja, com mais detalhes e exemplos, como ensinar cada aspecto (segmental/prosódico) da pronúncia do inglês.