Uma vez que já entendemos o que é pronúncia, passamos a pensar um pouco em sua didática e, principalmente, os erros e mitos mais comuns em seu ensino.

Mito #1 – Pronúncia é um conteúdo avançado

É um mito que a aprendizagem da pronúncia é complicada, trabalhosa, e que somente alunos em níveis avançados são capazes – se o são – de dominá-la. Além disso, podemos observar, comumente, cursos de inglês e materiais didáticos separarem aulas e lições mais avançadas para o estudo mais detalhado dos aspectos de pronúncia. No entanto, ao contrário do que essa crença e prática demonstram, a pronúncia pode e deve ser trabalhada de maneira acessível e coerente com alunos iniciantes. É importante, então, a sensibilização dos aprendizes para o sons e os fenômenos da língua estrangeira desde o início da aprendizagem; pois assim, além de construirmos uma consciência fonética e fonológica, podemos evitar a naturalização de erros que podem comprometer a comunicação.

Mito #2 – Falar bem é falar como um nativo

Um outro mito no ensino de pronúncia é a crença de que um bom falante de língua estrangeira fala ou deve falar como um nativo. Essa ideia parte da perspectiva de que a pronúncia de pessoas nativas é mais desenvolvida, ou mesmo um modelo. No entanto, além de não ser possível – ou positivo – nos livrarmos completamente de nossos sotaques, no caso da língua inglesa, em vista da sua popularidade e uso em diversos países, não devemos tratar a pronúncia de todos os falantes como iguais ou mesmo parecidas – ao contrário, temos a responsabilidade de respeitar as subjetividades de cada variação e indivíduo. Por essa razão, educadores enxergam os falantes de inglês, com base na maneira em que adquirem a língua, e separam-os em diferentes grupos: aqueles que têm o inglês como língua materna (Inner Circle); segunda língua (Outer Circle); ou mesmo língua estrangeira (Expanding Circle) (Kachru, 1985); como mostra a imagem abaixo:

Desse modo, por estarmos todos em grupos diferentes, devemos entender que podem ser compreendidos como nativos apenas aqueles que pertencem ao Inner Circle, estando ainda os indivíduos do Outer Circle mais próximos da língua nativa do que aqueles pertencentes ao Expanding Circle. Ademais, pela proporção desses grupos, representados na imagem, reconhecemos que existem mais falantes estrangeiros do que nativos do inglês – o que, por um viés quantitativo, contrariaria, novamente, o mito do falante nativo como modelo. 

Sendo assim, torna-se papel do professor conscientizar seus alunos a respeito desses conhecimentos, enfatizando que uma pronúncia alvo seria aquela que melhor permitisse a comunicação, e não uma tal qual a de um nativo.

Mito #3 – Só existem o inglês americano e britânico 

Por sua vez, é também um mito no ensino e aprendizagem do inglês que as variações estadunidense e britânica são as únicas formas – ou mesmo as corretas – de pronunciar a língua. À vista disso, é muito comum cursos e materiais de língua inglesa repreenderem seus alunos pelo uso de uma pronúncia diferente – até mesmo em variedades de certo prestígio (como a canadense e a australiana) – quando elas não seguem os padrões americanos ou britânicos. Da mesma maneira, essa correção sem fundamento, quando feita incorreta e frequentemente, pode implicar em situações desconfortáveis ou até mesmo em constrangimentos desnecessários. 

Pois, é importante, sempre que possível, a menção às diversas possibilidades de pronúncia de certos fonemas (alofones), bem como a ressalva de que o objetivo do ensino e aprendizado da pronúncia é a comunicação – que contempla não somente a fala, mas também a compreensão.

Agora que você, professor / futuro professor, já viu quais são os erros mais comuns do ensino e aprendizagem de pronúncia, veja nas próximas páginas do projeto como ter uma prática mais adequada.